Em 2023, os EUA recusaram 11,9% das solicitações de visto de turismo realizadas por brasileiros. Trata-se de uma queda em relação aos 14,5% observados em 2022 e da menor taxa de rejeição dos últimos nove anos. Contudo, ainda está abaixo dos patamares mínimos históricos registrados no início da década de 2010.
Os dados – que fazem parte de um levantamento da Viva América, assessoria imigratória especializada em vistos e serviços para quem quer viajar, estudar e trabalhar nos EUA – mostram ainda que o Brasil teve a 50ª menor taxa de rejeição de um total de 199 países.
O Brasil ficou à frente de nações como Grã-Bretanha (14,6% dos vistos negados), Nova Zelândia (13,2%), Austrália (16,7%), Chile (16,2%), China (26,6%), Canadá (52,4%) e Vaticano (14,2%).
“Desde a pandemia, a procura pelo visto americano de turismo, conhecido como B1/B2, disparou entre os brasileiros, fazendo inclusive com que o tempo de espera para a obtenção do documento atingisse filas recordes no ano passado. Por outro lado, justamente em razão desse fenômeno, nunca se falou tanto sobre como tirar o visto – e isso acabou ajudando as pessoas a melhor entenderem o processo de emissão e, portanto, a terem maiores chances de aprovação”, explica Rodrigo Costa, CEO da Viva América.
De acordo com o executivo, que mora há mais dez anos nos EUA, as medidas adotadas pela Embaixada americana no Brasil de aumentar a capacidade de atendimento das seções consulares, com o objetivo de dar conta da alta demanda pelo documento entre os brasileiros no período pós-pandemia, podem também ter resultado em uma maior disposição dos agentes em buscar a aprovação dos candidatos.
“É a diferença entre olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Quem já passou pelo processo de pedido do visto B1/B2 sabe que, em alguns casos, a boa vontade do oficial consular conta muito. Mas, em geral, eles sempre querem aprovar a solicitação, querem que o turista vá para os EUA. E realmente tem havido muita boa vontade neste sentido nos últimos tempos”, diz Costa.
Dados do Escritório Nacional de Viagem e Turismo dos EUA (NTTO) mostram que o Brasil foi o sétimo país que mais enviou viajantes aos destinos americanos em 2022. Além disso, os brasileiros são a sexta nacionalidade que mais gasta em viagens aos EUA (US$ 6,6 bilhões), representando ainda o quarto maior superávit da balança comercial turística do país.
Ainda de acordo com o levantamento da Viva América, os três países com a maior taxa de rejeição do visto americano de turismo em 2023 foram Micronésia, Coreia do Norte e Palau, todos com 100% de pedidos negados. Libéria (78,1%) e Mauritânia (76,4%) completam a lista dos “patinhos feios”.
Na outra ponta do ranking, Mônaco e Liechtenstein tiveram 0% de rejeição, seguidos por Catar (2,5%), Uruguai (3,2%) e Israel (3,3%). A média global de rejeição em 29,6%.
Dicas para não ter o visto americano negado
Costa explica que, para ter o visto americano aprovado, o turista precisa demonstrar basicamente duas coisas: capacidade financeira de arcar com a viagem pelo período indicado no formulário de solicitação e vínculos fortes com o Brasil.
“O oficial consular só quer saber se você não apresenta um risco imigratório para os EUA, ou seja, se não vai ficar no país ilegalmente uma vez que entre em território americano.”
Consequentemente, esclarece o executivo, a maioria das rejeições do visto americano acontece justamente porque o viajante não consegue comprovar seus laços com o País. Outros motivos de negativa do B1/B2 incluem informações desencontradas entre o que foi preenchido no formulário de solicitação e o que foi respondido na entrevista consular, eventual histórico de deportação ou de permanência indevida nos EUA, gravidez avançada (para evitar o chamado “turismo de nascimento”), condenações por crimes e questões de segurança nacional.
Costa ainda desmente o mito de que, caso o turista já tenha passagem comprada e hotel reservado, as chances de aprovação são maiores. “A verdade é isso não influencia a decisão do agente consular. Aliás, a orientação da própria Embaixada e nossa também é de que não se faça nenhum tipo de gasto sem antes ter o visto aprovado em mãos.”
Startup usa IA para acelerar emissão de visto dos EUA
O processo para tirar o visto também pode ser demorado. Na capital paulista, a espera para os visto de turismo ou negócios, chamados B1 e B2, está em uma média de 122 dias. Para otimizar esse tramite, a startup Semplice desenvolveu um software de Inteligência Artificial para aproveitar vagas de desistentes. A tecnologia promete uma redução de até 90% no tempo de espera para emissão do visto. De acordo com Willian Hugucioni, co-fundador da empresa, esses tipos de vagas atualmente correspondem a 70% das agendadas pela companhia.
“A parte mais demorada do processo é com certeza a espera pela entrevista. Há tempos isso tem sido dor de cabeça para quem tenta emitir o visto e também para nós que assessoramos neste processo, pois antigamente precisávamos perder horas olhando o site e como ninguém poderia ficar 24h nisso, perdíamos oportunidades de vagas”, explica o executivo.
A ferramenta faz uma atualização automática do site em que são agendadas as entrevistas para os consulados e detecta vagas que abriram após pessoas que marcaram entrevistas há vários meses desistirem por algum motivo. Dessa forma, alguém que deu entrada em poucos dias conseguem agendar de forma quase imediata.
De acordo com Willian, no momento em que as vagas são detectadas a IA alerta a empresa para a remarcação dos clientes em questão de segundos. A ferramenta foi lançada em setembro de 2023 e já atendeu mais de 500 casos. “Foi da história de um amigo meu que veio a ideia de SempliFast. Ele tentou pagar mais de 1 mil para uma empresa ajudá-lo a antecipar a entrevista dele e disseram que não poderiam. E depois eu, mesmo trabalhando na área, cheguei a perder uma viagem para Orlando porque precisei tirar o visto com urgência e não consegui agendar. Aí foi o estopim”, relembra.
A espera pela entrevista começa após o pagamento da taxa consular e o envio dos documentos solicitados pela embaixada americana no Brasil. Hoje o valor do visto está a US$ 185, aproximadamente R$ 917 para os tipos B1 e B2.
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